domingo, 8 de março de 2009

Dia da Mulher

Eric Gaillard/Reuters

Portuguesas continuam a ganhar menos e a trabalhar mais em casa. Mas há coisas a mudar e as próximas eleições já serão paritárias

Dia da Mulher

Mais metódicas, implacáveis, rigorosas, ambiciosas e ágeis do que os homens?

08.03.2009 - 08h48
Sofia Branco

Elas continuam a ganhar menos do que eles e a serem agredidas dentro da própria casa, mas hoje estão mais protegidas e têm mais consciência dos seus direitos. O Estado tem integrado a igualdade de género em todas as políticas públicas e a legislação portuguesa é das mais avançadas do mundo. E vêm aí as primeiras eleições paritárias de sempre.
Os sucessos dependem sempre da comparação e, aqui, nenhum Estado é perfeito. Há sempre um calcanhar de Aquiles - do apedrejamento ao afastamento dos cargos de chefia. E a realidade pode ser apresentada em invólucro optimista ou pessimista.
Recentemente, noticiámos que Portugal é o quarto país da União Europeia com menor disparidade de salário entre mulheres e homens. Segundo os dados da Comissão Europeia, o fosso salarial é de 8,3 por cento, enquanto os dados nacionais o elevam para 20 por cento (tem diminuído, mas a conta-gotas).A que se deve a disparidade? Ao indicador usado: o Eurostat compara o preço por hora de trabalho, mas as estatísticas nacionais confrontam salários mensais. "Como as mulheres portuguesas trabalham menos horas do que os homens, porque trabalham mais em casa, a diferença é menor quando contabilizada à hora", explica Elza Pais, presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.
Amanhã, quando o embaixador de Portugal na ONU usar da palavra na reunião anual da Comissão sobre o Estatuto das Mulheres para descrever a evolução da situação das portuguesas vai falar da Lei da Paridade (que será testada pela primeira vez nos três actos eleitorais deste ano - europeias, legislativas e autárquicas) e do Código do Trabalho (ainda em processo de aprovação, mas que aumenta as licenças de parentalidade de mães e pais). E dirá também que os 83 milhões de euros disponíveis para promover a igualdade entre 2007 e 2013 são "cinco vezes" superiores aos fundos do anterior quadro.
Hoje, as mulheres "têm consciência dos seus direitos", "já não aguentam como aguentavam", avalia Manuela Tavares, autora de uma tese sobre os feminismos em Portugal e membro da União de Mulheres Alternativa e Resposta. Mas, destaca, essa consciência não afasta a passividade e elas "ainda não estão à esquina, prontas para lutar".
Chefes tardias
Subsiste uma "discriminação invisível", que não deixa que as "grandes conquistas formais" se reflictam automaticamente na realidade, sublinha Elza Pais, vincando: "Perguntam-me sempre se me sinto discriminada hoje. Se calhar, se não fosse mulher, teria sido directora-geral mais cedo."
O acesso a cargos de chefia continua a ser-lhes mais dificultado do que aos homens, embora quase todas as profissões estejam a feminizar-se. Aliás, a presença das mulheres no mercado de trabalho está a aumentar e a dos homens a diminuir, embora continue a ser superior. Elas são mais afectadas pela crise, desemprego, pobreza e exclusão social. E continuam a ter de ser supermulheres com "duplas e triplas tarefas" e "muito pouco tempo livre só para elas", diz Manuela Tavares.
Elza Pais prefere não falar em sucesso no combate à violência doméstica - "ainda há muito a fazer" -, mas destaca que, segundo um estudo recente conduzido pelo professor universitário Manuel Lisboa, diminuiu dez por cento entre 1997 e 2007. Já a participação da violência tem aumentado, "em média, 11,2 por cento ao ano", mas em 2008 o salto foi de 30 por cento. "As vítimas têm mais confiança no sistema", interpreta Elza Pais, recordando que o conceito de violência alargou - hoje integra o namoro, os ex-companheiros, as relações homossexuais. Para Tavares, a "mentalidade sexista" condiciona o "comportamento dos agentes sociais", no público como no privado. E a "masculinidade hegemónica" impede os homens de partilharem as responsabilidades familiares. "Falta maior equilíbrio entre mulheres e homens na vida privada. A paridade não acontece só no espaço público."

Dez homens dizem como vêem as mulheres nas suas áreas
Manuel Antunes, cirurgião cardiotorácico, 60 anos
Ninguém espera que eu seja politicamente correcto, que diga que a “chegada” das mulheres à saúde provocou uma revolução fantástica, maravilhosa. E também não digo que homens e mulheres são iguais, não sou hipócrita. Também não sou machista – nunca prejudiquei uma mulher por ser mulher ou beneficiei um homem por ser homem. Só não faço discriminação positiva. Nem isso seria necessário – três quartos dos alunos de Medicina são mulheres. Elas são mais inteligentes? Não, numa determinada fase das suas vidas – na do acesso à universidade – são mais trabalhadoras, mais conscienciosas. Diferentes. Quando escolhem uma especialidade, também fazem opções diferentes das dos homens. Escolhem Pediatria, Cardiologia, Dermatologia... Não são muitas as que se candidatam em primeiro lugar às áreas cirúrgicas, acho que por terem noção de que estas não são adequadas às características femininas, que dependem da natureza e da educação. As mulheres são mais frágeis do ponto de vista físico e também mais dóceis quando comparadas com os homens, que, em geral, são mais belicosos e menos emotivos. Dito isto, não consigo afirmar que a medicina ganhou ou perdeu com as mulheres. Elas são diferentes, nem melhores nem piores. Enfim, talvez sejam mais capazes de estabelecer uma relação afectuosa com os doentes, o que é positivo.

Adelino Gomes, provedor da RDP, 64 anos
A entrada maciça das mulheres no jornalismo começa nos anos 1980. O jornalismo deixa de ser uma profissão de homens. Hoje, se quisermos ver quem são os maiores especialistas em certas áreas, encontramos três ou quatro mulheres e um homem. Mesmo nas áreas pesadas. Veja-se o último grande acontecimento, a guerra de Israel sobre Gaza. Tivemos lá três jornalistas portugueses, duas eram mulheres: a Márcia Rodrigues, da RTP, e a Alexandra Lucas Coelho, do PÚBLICO. O que é que mudou? Uma redacção antiga tinha um bocadinho de caserna, os homens passaram a ter mais tento na língua. Com a chegada das mulheres surgiu outro ambiente. Mas do ponto de vista jornalístico não vejo diferença. Quando leio, não penso: “Vamos ver como é que esta senhora olha para o sofrimento das crianças.” Penso: “Vamos lá ver como é que este jornalista vê isto.” “Este jornalista” – é como se fosse um género neutro. Não quero parecer politicamente correcto, mas a verdade é que estas questões nunca se me puseram. Ainda há disparidades no acesso aos cargos de chefia – sobretudo na rádio. Penso que é exactamente porque elas chegaram em último lugar. Os cargos de chefia exigem alguma veterania. Mas nos próximos anos iremos ter mais, é como uma maré que vai enchendo, uma maré feminina que está aí a chegar.

Rui Reininho, músico, 53 anos
As mulheres na música são tudo: a harmonia e a melodia. A voz feminina é um elemento primordial. É a primeira coisa que um homem ouve quando está dentro da pessoa. Para os seres vivos é quase a música das estrelas, é a primeira voz que ouve. É o respirar, é o sentir, a musicalidade dos úteros que pacifica. Não tenho recordação disso, embora tenha feito muitas regressões. Nasci de cesariana. Uma vez cá fora, é a mulher eco que responde quando nós temos ânsias, fome, necessidade de alguém, ouvimos sempre aquela voz quase como uma ambulância mas no bom sentido. A partir daí queremos sempre ouvi-las, mais a voz do que outra coisa. Quando somos pequeninos e lhes puxamos os cabelos e as empurramos pelas escadas abaixo gostamos de ouvi-las gritar também. E depois gemer. É sempre bonito. Mas não em todas as áreas. Antigamente eu só gostava do fado cantado por mulheres, agora, com o Camané e outros, já admito que os homens possam cantar o fado. Na chamada música ligeira as mulheres são mais suportáveis do que os homens. No chamado pop-rock, não gosto de baladeiras. Não acho graça nenhuma às Céline Dion e às acrobatas da voz. Deixam-me mal disposto. No pop-rock tenho tendência para ver a Xana sempre como “one of the boys”. E depois há aquelas que, como Isabel Silvestre, são a voz da terra. Vozes potentes, vozes maternais.
Miguel Soares, investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência, 41 anos
As mulheres são diferentes em ciência como são diferentes na vida, nada que influencie o resultado final para melhor ou pior. Se há alguma área onde se destacam será obra do acaso. Mas temos um problema nas carreiras. No início há muitas mulheres e poucos homens e no final as proporções invertem-se. Há uma disparidade enorme. É inaceitável. Têm de conseguir conciliar a vida familiar com as carreiras e, neste caso, acho que são diferentes dos homens. Pesa mais nelas. Primeiro pelo facto biológico de serem elas a ter um filho. Mas há também um facto social. Vejo o enorme stress em que ficam. Sentem que estão a ser más mães. Vejo o pânico quando me vêm dar a notícia de uma gravidez. Os homens são capazes de ser mais desprendidos. Perco pessoas no grupo por causa disso. Perco mulheres. Há soluções imediatas, remendos, que podem ter impacto, como criar uma creche nos institutos. Não tenho dúvidas de que a vida delas seria mais fácil e com menos stress. É claro que o ideal é mudar isto na base cultural, mas essas mudanças demoram gerações. Vivemos uma realidade pragmática. E, agora, elas desaparecem-nos das mãos. As mulheres na ciência que chegam ao topo e que conseguem conciliar a investigação de alto nível com a vida familiar são mulheres milagre. Não tem de ser assim. Elas não deviam precisar fazer milagres.

Manuel Carvalho da Silva, líder CGTP, 60 anos
O traço marcante do século XXI vai ser o aumento quantitativo e qualitativo das mulheres no trabalho. As mulheres são discriminadas no salário e em todos os mecanismos de protecção: têm pensões, subsídios de doença e desemprego mais baixos. A nível europeu, empurraram a mulher para o trabalho a tempo parcial. Isso vai mudar porque as mulheres não vão aceitar recuar nas conquistas. Em Portugal, as mulheres chegam ao trabalho nos anos 1960, por causa da industrialização, guerra colonial e emigração. Faltavam os homens e, de repente, descobriram-se a saber fazer coisas de que não se julgavam capazes. Os refugiados também impulsionaram a socialização das portuguesas, porque as estrangeiras iam ao café e fumavam... O salário seria um quarto factor, mas não muito, porque elas ganhavam muito menos. E havia homens que não admitiam que elas ganhassem tanto como eles. Hoje, a resistência mantém-se nas chefias, onde entramos no espaço do exercício efectivo do poder. Quando constroem a coesão e decidem agir, as mulheres são mais determinadas e decididas do que os homens. Foram muito importantes na luta pela redução do horário de trabalho. Agora, também há mulheres que incorporaram o pior do homem e que, quando chegam ao poder, são duras, às vezes violentas. É uma atitude defensiva, creio.

José Manuel de Pinho Sousa Coelho, Procurador-geral adjunto, inspector do Ministério Público, 54 anos
Acho que havia, antes da entrada das mulheres na magistratura, quase uma ideia – socialmente aceite – de que teria de ser um homem a exercer a função simbólica de administração de justiça, como factor imprescindível para a afirmação e credibilização dos tribunais. Era uma razão cultural, fruto do atraso português, ou até de tradição latina. Hoje, acho que a mulher se desforrou, invadiu literalmente a magistratura, com uma crescente prevalência quantitativa, na 1.ª instância, até porque a mulher tem preenchido mais de 80 por cento das vagas abertas, nos últimos anos, no Centro de Estudos Judiciários. Só no Ministério Público, em 900 procuradores adjuntos, mais de 60 por cento são mulheres. Não notei qualquer diferença especial na abordagem e resolução das questões jurídicas e litígios. Mas claro que sinto que, por terem uma especial sensibilidade natural, há áreas onde se sentem mais vocacionadas, tal como a área da família e, sobretudo, a área dos menores. As magistradas, não tendo a limitação pontual da maternidade, não são menos produtivas que os homens, até porque têm mais método diário, na decomposição das tarefas, conseguindo-se disciplinar mais. Noto-lhes, até, mais persistência. Em julgamento, noto uma menor tolerância, e um maior rigor formal, na condução dos trabalhos. Como balanço, a justiça ganhou com a feminização da judicatura.

Rui Zink, escritor, 47 anos
Quando cheguei ao negócio da escrita, inícios de 80, já um ror de escritoras fazia parte da mobília, para não dizer do cânone, esse padrão dos descobrimentos em formato falo. Já ninguém tinha medo de Virgínia Woolf, Florbela Espanca, George Sand, Mary Shelley, Yourcenar, Sophia, Lispector, Duras. Talvez das três Marias, Teresa Horta, Isabel Barreno, Velho da Costa. Yvette Centeno e Ana Hatherly perturbavam um bocadinho porque eram de outro planeta, luminosas. E na universidade falava-se da Llansol. As mulheres eram uma minoria, talvez, mas uma senhora minoria. E os editores ainda usavam barba e cachimbo, mas em Frankfurt habituei-me a ver esses pobres dinossauros serem ultrapassados na fila, à má fila, por “mulherzinhas” com ar dócil, mas que lhes comiam as papas na cabeça. Hoje, agentes e editores são quase sempre mulheres, e está muito bem: negociadoras implacáveis. E ágeis. O lado mau deste reviralho é que o mundo editorial perdeu muita da sua lentidão. E há as tias, claro. Não lhes admiro a escrita, mas acho graça ao cocktail de candura, determinação e oportunismo. Mas talvez nenhuma escritora seja tão feminina como Agustina quando conta a saga de Quina, a sibila. Flaubert disse “Madame Bovary c’est moi”, mas referia-se ao livro em geral. Em 1956, já Agustina, a lida, sabe que é também Quina, a rural. Chama-se a isso arte.

Carlos Moreira da Silva, Chairman da BA Vidro, 56 anos
Quando iniciei a carreira, há 30 anos, o papel das mulheres nas empresas era muito diferente. Trabalhavam na administração pública, em funções técnicas, com uma progressão muito mais limitada. Muito mudou no perfil da mulher, enquanto profissional, deste então. Primeiro, mudou a própria atitude das mulheres – ganharam outras prioridades para além da maternidade e da família, formaram-se nas universidades e passaram a querer mais. Não são nem mais, nem menos inteligentes. São, sim, mais ambiciosas. E, depois, mudou o sistema em que estavam inseridas – há mais soluções para se libertarem da educação e do acompanhamento dos fi lhos, partilha-se mais em casa e, por isso, sobra mais tempo para a ambição. Não gosto de estigmas, mas, de uma forma quase caricatural, diria que há alguns traços femininos mais característicos, no ambiente empresa. Têm a capacidade de desconstruir problemas, são mais tranquilas e jogam, regra geral, de forma mais inteligente. Têm, no entanto, menos capacidade para aceitar pontos de vista diferentes quando tomam decisões e têm menos jogo de cintura. Acredito que vão, naturalmente, ocupar a maioria dos cargos de chefia no futuro, leia-se, daqui a duas ou três gerações. Acima de tudo, porque são mais trabalhadoras do que os homens.

Miguel Portas, eurodeputado do Bloco de Esquerda, 50 anos
O poder no espaço público é um domínio do masculino. Este dado perverte a ocupação desse espaço público pelas mulheres e determina o facto de ainda termos de criar leis da paridade. Por isso, para lá da clivagem esquerda-direita, há clivagens no olhar que não se esgotam na relação política. Há homens e mulheres de esquerda e de direita, mas que tendem a não ser uma coisa ou outra da mesma maneira. E isso não é tanto uma consequência de se ser homem ou mulher, mas de se ser homem ou mulher numa sociedade onde o poder no espaço público é masculino. Já o poder no espaço privado é hegemonizado pelas mulheres. O que caracteriza as sociedades mediterrânicas não é, em abstracto, a diminuição do papel da mulher, mas a repartição de papéis. O homem ainda não partilha as responsabilidades no espaço doméstico. No espaço público passa-se o mesmo ao contrário. São duas desigualdades. A emancipação da mulher tem a ver com a igualdade no espaço público, mas também com a necessidade de os homens, no privado, se regerem por relações de partilha e não de falta de comparência. Claro que as alterações nas últimas décadas são muito substantivas. Basta ver a série Conta-me Como Foi, um excelente retrato da época, para se perceber que aqueles tempos ainda existem em Portugal. Em simultâneo, existem hoje outros tempos, mais actuais.

António Veloso, professor de Biomecânica da Faculdade de Motricidade Humana, Univ. Lisboa, 46 anos
As mulheres têm piores resultados do que os homens na generalidade dos desportos. Por um lado, porque beneficiam de menor investimento e menos oportunidades de prática. Por outro lado, há características fisiológicas e anatómicas associadas ao género que conduzem à diferença de resultados. Uma delas é o facto de os homens terem mais massa e potência muscular. Nos desportos em que a potência muscular é fundamental não é possível às mulheres recuperarem a diferença, como é o caso das provas de natação, velocidade ou saltos no atletismo. Também nas modalidades em que a altura é importante, como basquetebol, andebol e voleibol, é impossível haver equilíbrio. Mas há casos em que as mulheres são melhores, como na ginástica rítmica, em que a flexibilidade é determinante – se os homens competissem, perderiam. E no hipismo, as mulheres ganham regularmente na categoria de ensino. O ténis é um caso curioso, em que as mulheres suscitam tanto interesse como os homens e os prémios nos Grand Slam são iguais. Quando as mulheres atingirem o nível de prática dos homens em modalidades em que a precisão seja o mais relevante é provável que façam resultados semelhantes. É o caso do tiro e do tiro com arco, em que as diferenças já são reduzidas. Só que, fora os países ocidentais, há milhões de mulheres sem prática desportiva de bom nível.

1 comentário:

Anónimo disse...

Prezada dona Maria Tereza,

Lendo os pronunciamentos dos “Dez homens” sobre o desempenho universal da mulher, vejo que, em linhas gerais, as mulheres “estão bem na foto”, como se diz aqui no Brasil quando se constata uma perspectiva de sucesso.
O que me causou uma certa surpreza foram, por exemplo, os argumentos de que na ciência, “se há alguma área onde (as mulheres) se destacam será obra do acaso”, assim como a afirmativa de que “as mulheres que chegam ao topo e que conseguem conciliar a investigação de alto nível com a vida familiar são mulheres milagre”.

Parece não haver uma unanimidade nesse arrazoado e nem o ranking da União Interparlamentar nos dá tranqüilidade para assim concluir. Segundo nos dão conta os pronunciamentos das próprias interessadas, emitidos por ocasião de um colóquio ocorrido na Universidade Técnica de Lisboa, (Ciência/Hoje - Marta F. Reis, 13..03.2008) as razões do “insucesso” das mulheres na área da ciência teriam outras conotações mais prementes e importantes:

“De acordo com os participantes (do colóquio), a discriminação das mulheres na ciência tem a ver sobretudo com os processos de manutenção do poder na hierarquia científica. Helena Pereira, vice-reitora da Universidade Técnica de Lisboa e Arménia Carrondo, vice-reitora da Universidade Nova Lisboa, revelaram dados relativos à distribuição por género nos quadros superiores das duas instituições. Segundo as responsáveis, não se percebe por que há uma maioria feminina ao nível dos diplomados no ensino superior e na distribuição por género nos quadros gestão se verifica uma muito menor percentagem de mulheres ou até nenhuma mulher.
A questão defendida é que é importante que haja espaços de poder representados pela condição feminina porque só assim a sua participação nas agendas de investigação, em assuntos como a que áreas devem ser atribuídos fundos, disseram as responsáveis.”

E as reclamações não pararam por aí:

“Para Maria Isabel Romão, da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, a resolução deste problema implica o reconhecimento da investigação e do trabalho estatístico sobre os géneros. "Temos de promover esforços para alcançar uma distribuição equilibrada", disse esta manhã.
Segundo a responsável, a discriminação acaba por ter um efeito bola de neve. No caso da ciência, há pouca visibilidade do trabalho desenvolvido por mulheres cientistas o que, de certa forma, vai influenciar a atracção que as jovens raparigas sentem pelos cursos científicos. Depois realidades como discriminação ao nível dos recrutamentos, da progressão da carreira, na atribuição de bolas e a dificuldade de regressar ao trabalho após um período de interrupção, por exemplo por gravidez, revelam que ainda não há muito a ser feito nesta área.”

Também na área política a dificuldade de a mulher poder trabalhar satisfatoriamente frente ao binômio casa/emprego é a tônica da justificativa da ausência da mulher nessa área.
É importante lembrar que quando Deus “fabricou” a mulher Ele colocou nela, além de outros mais, 3 dotes para enriquecer a personalidade dela: “lutar por aquilo em que acreditam”,.erguer-se contra a injustiça” e “não aceitar um não como resposta quando pensarem que há uma solução melhor”.
Isso é enfatizado no comentário de um dos “Dez Homens”, sobre a mulher na empresa, quando o comentarista afirma que as mulheres “têm menos capacidade para aceitar pontos de vista diferentes quando tomam decisões e têm menos jogo de cintura”.
Acredito que é por aí que começa a dificuldade de conciliação da mulher com a política, cujo arsenal de armamentos está construido em cima do “toma lá, dá cá”.
Divagações à parte, parece-me que a dificuldade proporcionada pelo tal binômio casa/emprego não é justificativa aceitável para explicar o esvasiamento da mulher na política.

Na verdade, a política está impregnada do “cheiro intolerável” dos homens.
Mas, como se fora a ação de um verdadeiro aríete, com boa vontade se consegue afastar essa quase “nauseabundância”.

Num estudo levado a efeito em 2006 por mestrandas em Sociologia da Universidade Federal do Paraná (Brasil), foi reconhecido que a política de cotas, quando bem articulada, traz as mulheres para dentro da política.
O estudo se detém, por exemplo, na situação da Argentina, na América do Sul, que está bem colocada no ranking de participação das mulheres na política:.

“Na América Latina, o caso da Argentina merece destaque, pois foi o primeiro país a aplicar uma política de cotas eleitoral em 1991, com posterior emenda à Constituição Nacional em 19943 (?). Argentina ocupa uma posição privilegiada no ranking mundial de participação feminina em cargos legislativos nacionais. Possivelmente um dos fatores que contribuam para isto seja a natureza da lista partidária vigente no país. Segundo Htun (2001),a natureza da lista partidária (aberta ou fechada) é um dos fatores que determinam o sucesso da aplicação de uma política de cotas. A Argentina possui lista fechada, “cada partido controla o posicionamento de seus candidatos na lista. Neste sistema, os eleitores votam nos partidos e não nos candidatos. A quantidade de votos recebida por partido determina quantos candidatos da lista serão eleitos”. (Htun, 2001, p. 227) Além desta regulamentação, no país está vigente uma norma que torna a obrigatoriedade da colocação de mulheres nas listas. A cada terceira posição de uma lista, o espaço deve ser preenchido por uma mulher. Se, por exemplo, um partido estiver concorrendo a somente duas vagas num Distrito, pelo menos um dos candidatos terá de ser mulher. Sem esta norma de obrigatoriedade de posição competitiva para mulheres, como a Costa Rica, a República Dominicana e a Venezuela, a eficácia de cotas tem sido menor. (Htun, 2001, p.227)”

E explica:
“O sucesso de uma política de cotas de gênero está relacionado com a “engenheira institucional” adotada no país. Como vimos, tudo indica que o sucesso da política na Argentina, tem a ver com o tipo de lista e a obrigatoriedade da posição das mulheres nesta.
Como segundo fator, se pode mencionar a cultura política. Os países escandinavos possuem uma tradição forte de presença da mulher em movimentos feministas, além de uma tradição social-democrata e um passado de Welfare State desenvolvido. Estes fatores não podem ser considerados isolados, pois de alguma maneira a política de cotas vem a existir para diminuir a exclusão arraigada historicamente.
O sucesso das políticas de cotas depende, em primeiro lugar, pela maneira como são elaboradas e de como está estruturado o sistema político de cada nação. O bom desempenho do sistema argentino de cotas, por exemplo, se deve basicamente à natureza da lista partidária do país, que é fechada, em que os eleitores votam nos partidos e não nos candidatos. Em segundo lugar, ainda no caso argentino, vale ressaltar as leis complementares às políticas de cotas, como é o caso da obrigatoriedade da colocação de uma mulher a cada três candidatos das listas apresentadas pelo partido. Em terceiro lugar fica a questão da cultura política que permeia todo o sistema político de um país”

(Larissa Rosevics, (Mestranda Sociologia / UFPR) larissa_ri@hotmail.com
María Alejandra Nicolás, (Mestranda Sociologia / UFPR) alejanicolas@hotmail.com
Roberta Carnelos Resende, (Mestranda Sociologia / UFPR) roberta_carnelos@yahoo.com.br)

Por fim, resta a situação da mulher no esporte, atividade na qual, diante da apreciação dos “Dez Homens”, elas “têm piores resultados do que os homens na generalidade dos desportos”.

Graças ao Senhor que assim acontece. Já imaginaram eu dando de encontro, a cada esquina, com uma schwarzenegger feminina ? Pra que lado e em quantos pedaços seria reduzido o “encantamento” ?

Não !. Deixa como está !. Está ótimo assim. Deus sabe o que faz.

SDS
Pimenta
(Belém - Pará - BR)