segunda-feira, 9 de março de 2009

Associação de caçadores nega envolvimento de associado na morte de águia-imperial

Os especialistas estimam que só existam 400 casais desta espécie no mundo

09.03.2009

Lusa

O presidente da associação de caçadores concessionária da zona de caça alentejana onde foi abatida a tiro uma águia-imperial negou hoje o envolvimento de qualquer associado naquele abate ilegal, que estranhou e acredita ter sido propositado.
"Para mim não foi um acidente", disse à agência Lusa João Baiôa, presidente da Associação de Caça e Pesca "Os Castelos", considerando que "alguém abateu a ave propositadamente".
"Mas não foi nenhum dos nossos associados, porque não frequentam a zona desde 11 de Janeiro, o dia da última caçada", afirmou o responsável da associação concessionária da zona associativa onde foi abatido a tiro, entre 21 e 23 de Fevereiro, o macho do único casal de águia-imperial que nidificou em Portugal em 2008.
Por outro lado, frisou, a associação, desde que teve conhecimento que o casal de águia-imperial estava na zona de caça, "pediu aos associados para evitarem o local, para deixaram as aves nidificar em paz".
Frisando que "um abate ilegal deste tipo pode levar à perda da concessão de uma zona de caça", João Baiôa, escusou-se a fazer acusações e limitou-se a considerar "muito estranho" o abate da águia-imperial, porque "aconteceu numa altura em que foi conhecida a divisão da zona de caça".
Nos últimos 14 anos, a Associação de Caça e Pesca "Os Castelos" tem assumido a concessão da zona de caça associativa que inclui, entre outras, as zonas da Figueirinha e Alcaria do Coelho, num total de 2205 hectares distribuídos pelos concelhos de Mértola e Castro Verde, no distrito de Beja.
Segundo José Baiôa, a partir de 15 de Julho, a Associação de Caça e Pesca "Os Castelos" ficará apenas com a concessão de 1474 hectares, sendo que gestão dos restantes 731 vai transitar para uma zona de caça turística propriedade de privados, que "já andam no terreno".
O macho de águia-imperial foi encontrado morto há duas semanas junto ao seu ninho e a necropsia revelou que foi atingida por chumbos de caçadeira, segundo o Segundo o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), que vai apresentar uma queixa-crime ao Ministério Público contra "incertos".
A cria já havia abandonado o ninho, frisou o instituto, sublinhando que o abate desta águia configura "uma contra-ordenação ambiental muito grave", segundo o Regime Jurídico da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (Decreto-Lei nº 142/2008, de 24 de Julho).
A águia-imperial é uma das aves de rapina mais ameaçadas do mundo, estimando-se que existam apenas 400 casais sobreviventes, está classificada como "em perigo de extinção" e, a nível europeu, é considerada como "globalmente ameaçada".
Em Portugal, estima-se que existam menos de 10 exemplares de águia-imperial, confirmando-se a sua presença no troço superior do rio Tejo e respectivos afluentes, na bacia do rio Guadiana, nomeadamente nas Zonas de Protecção Especial (ZPE) de Moura/Mourão/Barrancos, Vale do Guadiana e Castro Verde.
O Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal classifica a águia-imperial como "criticamente em perigo". Trata-se de uma espécie prioritária para a conservação da natureza, no âmbito da legislação europeia (Decreto-Lei nº49/2005, de 24 de Fevereiro, relativo à conservação das aves selvagens - Directiva aves - e à preservação dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens - Directiva habitats).

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