segunda-feira, 30 de março de 2009

Brasil: Índios da Raposa Serra do Sol

Brasil: Índios da Raposa Serra do Sol
É uma vitória histórica que faz justiça aos cinco povos indí­genas da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS), em Roraima, no norte do Brasil.

“Temos 35 anos de luta. Conseguimos que limitassem, demarcassem e homologassem a terra. Acreditamos que tudo isso deva ser confirmado como está”, afirmou o líder Martinho Macuxi.
Os 11 juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) levaram sete longos meses a concluir o julgamento de uma acção de inconstitucionalidade interposta pelos senadores de Roraima contra a demarcação da terra indígena. Iniciado em 27 Agosto de 2008, o julgamento foi adiado para 10 de Dezembro.
Tendo sofrido novo adiamento, foi retomado a 18 de Março último e concluído no dia seguinte com a decisão favorável à manutenção da reserva. Um conjunto de 19 cláusulas serve de base para futuras demarcações.
“Essas condições aplicam-se à Raposa Serra do Sol, mas têm um efeito transcendente para as demais demarcações”, afirmouo presidente do STF, juiz Gilmar Mendes.
“Há um alívio para todas as partes. O governo passa a saber os limites da sua acção e os afectados passam a ter alguma segurança jurídica neste contexto”.

Rápido para evitar conflitos
O prazo da retirada dos arrozeiros da Raposa será definido pelo juiz Ayres Britto e pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, responsáveis por supervisionar a execução da sentença. “Será um prazo comum, uniforme para todos os que ainda se encontram lá”, afirmou. “Acho que não vai haver resistência. Uma decisão do STF é para ser cumprida”.
Ayres Britto não garantiu se o prazo a ser definido terá em conta a colheita da safra dos produtores de arroz.
“Quem plantou em uma área sob litígio o fez por sua conta e risco”.

A advogada Joênia Carvalho, índia wapichana, que representa as populações indígenas, defendeu que a partir da demarcação contínua da reserva, qualquer ocupação por brancos é ilegal.
“Não se justifica a ampliação do prazo para que eles continuem produzindo ilegalmente dentro das terras indígenas".
De parecer contrário, é o advogado de defesa dos produtores de arroz, Luiz Albrecht.
“Os investimentos foram feitos e é preciso que sejam resguardados esses direitos”.
O advogado-geral da União, José Toffoli, esclareceu que a maioria dos arrozeiros já saiu da região de forma pacífica e pediu celeridade na retirada do grupo que ainda permanece no local.
“Quanto mais rapidamente a situação for resolvida, menor é a possibilidade de conflito”.

À terceira foi de vez. O Supremo Tribunal Federal decidiu, em 19 de Março, em Brasília, manter a demarcação contínua da área de 1,7 milhão de hectares, homologada em Abril de 2005 pelo governo de Lula da Silva, por 10 votos contra um.
Com esta decisão, um grupo de grandes produtores de arroz e cerca de 50 famílias de agricultores brancos, que ainda resistiam na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, terá de deixar a reserva.

texto Elísio Assunção

Cartão amarelo ao governo
As cláusulas fixadas pelo STF têm a ver com a instalação de bases militares na fronteira e com o acesso da Polícia Federal e do Exército à área sem necessidade de autorização. Por outro lado garantem o acesso de visitantes e investigadores ao Parque Nacional do Monte Roraima, situado dentro da reserva, assim como a proibiçãom de actividades de caça, pesca, recolha de frutos ou qualquer actividade agropecuária por pessoas estranhas. Além disso proíbe o alargamento da área demarcada. Gilmar Mendes mostrou um cartão amarelo ao governo. Pediu providências ao estado brasileiro para pôr cobro à situação de abandono em que vivem os índios das áreas demarcadas.
Na visita que fez, no ano passado, à aldeia Ingaricó, dentro da Raposa Serra do Sol, ficou com a ideia de que, naquela região, vivem índios sem assistência adequada.

"Percebe- se ali a angústia do índio e a falta de presença do estado. Os índios estão entregues um pouco à própria sorte. Têm que caminhar dois dias e viajar dez horas de ônibus até Boa Vista [capital de Roraima]. Faz-se a demarcação e nada mais”, criticou o presidente do STF.

Direito fundamental
A posse da terra é fundamental para a sobrevivência dos povos indígenas.
“Emerge claramente do texto constitucional que a questão da terra representa um direito fundamental dos índios porque, sem a garantia da permanência, o índio pode expor-se ao risco gravíssimo da desintegração cultural, da perda da identidade étnica e da erosão de sua própria consciência e percepção como integrante de uma nação”, afirmou o juiz Celso de Mello.
O Ministério da Justiça foi o responsável pela edição da portaria de demarcação da área, de nº 534/2005, e o presidente da República, pelo decreto de sua homologação, de 15 de Abril de 2005.

1 comentário:

Pimenta disse...

Caríssima dona Maria Tereza,

Uma vez que a senhora tocou no assunto, deixe-me falar-lhe alguma coisa sobre a terra denominada Raposa Serra do Sol, na realidade uma verdadeira babel sem torre.

Ali estão reunidos os interesses do Estado brasileiro (a terra faz fronteira com outros países), os interesses do Estado de Roraima, aonde ela está situada (o Governo do Estado perde renda com o afastamentos dos plantadores de arroz e dos pecuaristas), os interesses dos chamados arrozeiros, aqueles que se dedicam à plantação do arroz e que vieram do Sul do país atraídos por vantagens de isenção de impostos, os interesses dos criadores de gado (pelos mesmos motivos), os interesses das diversas ONGs que funcionam ali “defendendo” as mais diferentes teses (inclusive as delas próprias), os interesses dos representantes das diversas religiões, que “protegem” os índios na prática da sua autonomia religiosa (não sem um empurrãozinho na direção do Deus de cada uma delas), os interesses dos ambientalistas, que pugnam pela intocabilidade da área, os interesses dos historiadores, que defendem o direito de os índios continuarem habitando a terra que sempre ocuparam, os interesses dos próprios índios, muitos deles já aculturados, que conduzem tudo com um olho na bandeira da manutenção do seu direito sociocultural e o outro olho na possibilidade de serem autônomos para manejar as riquezas do solo e da floresta e finalmente, os interesses daqueles que desejam a autonomia dos índios para, através deles, se aproveitarem das riquezas que já foram identificadas na região..

É o destino de uma região do tamanho de 1.7 milhão de hectares do território nacional, aonde vivem cerca de 20.000 índios, aculturados ou não, rica, segundo apregoam, em ouro, diamante, calcáreo, urânio, petróleo, cobre etc. só para enunciar alguns minérios, e que é, segundo dizem, o verdadeiro motivo de tantas ONGs se "apaixonarem" pelo indos.

O Supremo Tribunal Federal, ao decidir sobre esse rumoroso problema, pendeu de forma favorável à demarcação contínua das terras reivindicadas pelo indígenas, mas estabeleceu condições:

- Os índios têm o usufruto das terras demarcadas, mas elas continuam pertencendo à União.

- Com autorização do Congresso, o governo federal poderá explorar os recursos hídricos e riquezas minerais da área.

- O ingresso, a qualquer momento, das Forças Armadas e da Polícia Federal, bem como a construção de instalações militares, não dependerá de consulta nem às comunidades indígenas nem à Funai.

- O usufruto tampouco impedirá a União de criar nas reservas redes de comunicação, vias de transporte e outros serviços públicos.

- Os indígenas não poderão explorar recursos energéticos, garimpar, cobrar tarifas ou pedágios nem arrendar terras.

- A presença de não índios nas áreas demarcadas deverá obedecer a normas da Funai. E em nenhuma hipótese eles poderão caçar, pescar ou exercer ali atividades agropecuárias.

A decisão também atingiu a autonomia da Funai (Fundação Nacional do Índio) na demarcação de reservas indígenas, havendo projeto em tramitação para que doravante tais decisões passem pela aprovação do Congresso.

É a Amazônia ...
E por falar em Amazônia, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) recebeu nesta quarta-feira a primeira parcela de recursos doados pelo governo da Noruega ao Fundo Amazônia, que vai financiar ações de combate ao desmatamento e recuperação da floresta.

Os US$ 110 milhões repassados são a primeira parte da doação norueguesa, que deve chegar a US$ 1 bilhão até 2015.

SDS
Pimenta (Belém do Pará -BR)