Índios denunciam mortes
Em 10 ou 20 anos, cinco tribos indígenas podem estar dizimadas. Os seus caciques improvisaram ontem um protesto invadindo o centro de imprensa
Quinze por cento das crianças das tribos Marubo, Mayorma, Matis, Kanamary e Kulina, no estado do Pará estão infectadas com hepatite B e esta percentagem sobe para 85 por cento, no caso de adultos dos 13 aos 40 anos. Na passada quinta-feira, Edilson Kanamary morreu de hepatite delta. Em 2008, houve seis mortes por este tipo de hepatite, mas também por sarampo e malária, numa população de 3700 indivíduos das cinco etnias. E os caciques, chefes das aldeias, temem que dentro de 10 ou 20 anos as suas famílias possam estar dizimadas.
Por tudo isto, um grupo de índios, com trajes tradicionais e setas empunhadas, invadiu ontem o centro de imprensa do Fórum Social Mundial (FSM), promovendo ali uma conferência de imprensa improvisada, para denunciar estas mortes no vale amazónico de Javari, nas fronteiras do Brasil, Colômbia e Peru.
Para estes representantes, a Funasa – Fundação Nacional de Saúde, uma instituição do Ministério da Saúde brasileiro para promover e proteger "a saúde dos povos indígenas" não faz nada. Estão sem receber medicamentos e arcas frigoríficas para os manterem. "A Funasa não está a tratar, tem de ter posto de saúde, médico, dentista, me preocupa muito", disse um cacique marubo.
Mais de um milhar passou pelo stand da Consolata
Já se começa a fazer o balanço. O movimento no fórum diminuiu talvez por causa da chuva ou porque se aproxima o fim. Embora cansados, os jovens não desarmam
A um dia do encerramento do Fórum Social Mundial 2009, já se nota uma diminuição do número de participantes a circular pelos espaços do fórum. As avenidas não estão tão repletas, até porque a chuva foi caindo de mansinho durante o penúltimo dia. Por outro lado, os movimentos e organizações intensificaram as suas manifestações.O stand da Consolata suscitou muito interesse e foram mais de um milhar de pessoas a pedir literatura e a conversar com missionários e missionárias sobre as actividades que desenvolvem nas missões, designadamente sobre os projectos apresentados no fórum: o projecto da água em Mokululu, no Quénia, a luta dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol, de Roraima, Brasil, o Centro de Cultura Makua, em Moçambique, e o projecto da tribo Nasa, na Colômbia.No campus da Universidade Federal Agrária, é visível o dinamismo dos jovens, apesar do cansaço. São às centenas as tendas montadas no meio da relva encharcada de água e lama. Por todo o lado há cordas, esticadas entre duas árvores, carregadas de roupa ensopada de água. A 1 de Fevereiro termina o fórum. Estão preparados os últimos debates e comunicações. No final esperam-se as conclusões. E a festa chega ao fim. Valeu a pena, não obstante alguma desorganização e o incómodo do calor e da chuva.
«A prática é mais transformadora que a teoria»
Boaventura de Sousa Santos é um português que arrasta pequenas multidões no Fórum. Para defender que é preciso "actuar hoje, amanhã pode ser tarde"
"Há uma necessidade de urgência de actuar hoje, porque amanhã pode ser tarde demais", alertou ontem o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, numa das suas intervenções no Fórum Social Mundial, em Belém do Pará.
Perante umas três centenas de pessoas, muitas em pé e fora da tenda onde decorria o debate sobre "Diversidades e mudanças civilizacionais – a utopia do século XXI?", Sousa Santos defendeu a necessidade de combater "o nosso inimigo interno, a cabeça". Segundo o sociólogo, "a prática é mais transformadora que a teoria, a teoria tem de ir atrás", uma sugestão que motivou fortes aplausos, de uma assistência rendida desde o primeiro minuto.
Boaventura de Sousa Santos entende que "as utopias constroem-se no concreto" e que os movimentos progressistas devem adoptar "as línguas que não sejam colonialistas". Mas para concretizar estas utopias, o caminho tem de ser mais realista. "Antes tínhamos um instrumento, a revolução. Esse modelo falhou, fez mudanças rápidas, mas não fez a mudança civilizacional." E o Fórum tem de tornar mais visíveis as suas propostas, para que o mundo as conheça, defendeu.
Em 10 ou 20 anos, cinco tribos indígenas podem estar dizimadas. Os seus caciques improvisaram ontem um protesto invadindo o centro de imprensa
Quinze por cento das crianças das tribos Marubo, Mayorma, Matis, Kanamary e Kulina, no estado do Pará estão infectadas com hepatite B e esta percentagem sobe para 85 por cento, no caso de adultos dos 13 aos 40 anos. Na passada quinta-feira, Edilson Kanamary morreu de hepatite delta. Em 2008, houve seis mortes por este tipo de hepatite, mas também por sarampo e malária, numa população de 3700 indivíduos das cinco etnias. E os caciques, chefes das aldeias, temem que dentro de 10 ou 20 anos as suas famílias possam estar dizimadas.
Por tudo isto, um grupo de índios, com trajes tradicionais e setas empunhadas, invadiu ontem o centro de imprensa do Fórum Social Mundial (FSM), promovendo ali uma conferência de imprensa improvisada, para denunciar estas mortes no vale amazónico de Javari, nas fronteiras do Brasil, Colômbia e Peru.
Para estes representantes, a Funasa – Fundação Nacional de Saúde, uma instituição do Ministério da Saúde brasileiro para promover e proteger "a saúde dos povos indígenas" não faz nada. Estão sem receber medicamentos e arcas frigoríficas para os manterem. "A Funasa não está a tratar, tem de ter posto de saúde, médico, dentista, me preocupa muito", disse um cacique marubo.
Mais de um milhar passou pelo stand da Consolata
Já se começa a fazer o balanço. O movimento no fórum diminuiu talvez por causa da chuva ou porque se aproxima o fim. Embora cansados, os jovens não desarmam
A um dia do encerramento do Fórum Social Mundial 2009, já se nota uma diminuição do número de participantes a circular pelos espaços do fórum. As avenidas não estão tão repletas, até porque a chuva foi caindo de mansinho durante o penúltimo dia. Por outro lado, os movimentos e organizações intensificaram as suas manifestações.O stand da Consolata suscitou muito interesse e foram mais de um milhar de pessoas a pedir literatura e a conversar com missionários e missionárias sobre as actividades que desenvolvem nas missões, designadamente sobre os projectos apresentados no fórum: o projecto da água em Mokululu, no Quénia, a luta dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol, de Roraima, Brasil, o Centro de Cultura Makua, em Moçambique, e o projecto da tribo Nasa, na Colômbia.No campus da Universidade Federal Agrária, é visível o dinamismo dos jovens, apesar do cansaço. São às centenas as tendas montadas no meio da relva encharcada de água e lama. Por todo o lado há cordas, esticadas entre duas árvores, carregadas de roupa ensopada de água. A 1 de Fevereiro termina o fórum. Estão preparados os últimos debates e comunicações. No final esperam-se as conclusões. E a festa chega ao fim. Valeu a pena, não obstante alguma desorganização e o incómodo do calor e da chuva.
«A prática é mais transformadora que a teoria»
Boaventura de Sousa Santos é um português que arrasta pequenas multidões no Fórum. Para defender que é preciso "actuar hoje, amanhã pode ser tarde"
"Há uma necessidade de urgência de actuar hoje, porque amanhã pode ser tarde demais", alertou ontem o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, numa das suas intervenções no Fórum Social Mundial, em Belém do Pará.
Perante umas três centenas de pessoas, muitas em pé e fora da tenda onde decorria o debate sobre "Diversidades e mudanças civilizacionais – a utopia do século XXI?", Sousa Santos defendeu a necessidade de combater "o nosso inimigo interno, a cabeça". Segundo o sociólogo, "a prática é mais transformadora que a teoria, a teoria tem de ir atrás", uma sugestão que motivou fortes aplausos, de uma assistência rendida desde o primeiro minuto.
Boaventura de Sousa Santos entende que "as utopias constroem-se no concreto" e que os movimentos progressistas devem adoptar "as línguas que não sejam colonialistas". Mas para concretizar estas utopias, o caminho tem de ser mais realista. "Antes tínhamos um instrumento, a revolução. Esse modelo falhou, fez mudanças rápidas, mas não fez a mudança civilizacional." E o Fórum tem de tornar mais visíveis as suas propostas, para que o mundo as conheça, defendeu.
Fonte Informativa: FÁTIMA MISSIONÁRIA 31-01-2009
Informação recebida de César Salazar Pimenta (Belém do Pará - PA) e CL Maria Teresa Correia (Viseu - PT)
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