domingo, 22 de fevereiro de 2009

Brasil quer saber o que está a acontecer às zonas desflorestadas da Amazónia

Foto: Rickey Rogers/Reuters

A desflorestação na Amazónia brasileira foi de 11.968 quilómetros quadrados em 2007/2008

Projecto vai recorrer a imagens de satélite
20.02.2009 - 15h45 Helena Geraldes

Depois de 20 anos a monitorizar o abate florestal na Amazónia, com a ajuda de imagens de satélite, o Brasil prepara-se agora para descobrir o que está a acontecer às zonas que já foram desflorestadas. Dados preliminares mostram que cerca de 20 por cento está em processo de regeneração.
Desde 1988, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) publica anualmente as taxas de desflorestação da Amazónia, com base em imagens de satélite relativas a floresta primária. Os dados mais recentes, relativos a 2007/2008, mostram que a taxa de desflorestação na Amazónia brasileira foi de 11.968 quilómetros quadrados.
Actualmente, o instituto tem em funcionamento dois sistemas complementares: o PRODES e o DETER. Mas estes só levam em conta as áreas desmatadas, colocando uma "máscara digital" em cima das áreas desflorestadas nos anos anteriores para impedir que sejam recontadas.
"A diferença deste novo projecto é que será possível saber o que aconteceu numa área desmatada, por exemplo, há 20 anos", explicou ao PÚBLICO Ana Paula Soares, assessora de imprensa do INPE, com sede em São Paulo. "O PRODES não considera áreas reflorestadas, ou seja, uma vez que houve um desmate, aquela área será sempre considerada desmatada pelo PRODES, ainda que posteriormente surja uma outra vegetação ali", acrescentou. "O novo sistema vai olhar para essas áreas que um dia foram desmatadas para saber como estão hoje", retirando-lhes essa "máscara virtual".Vinte por cento da área desflorestada está em regeneração
Segundo o jornal brasileiro "Estado de São Paulo", dados preliminares baseados numa amostra de 26 imagens de satélite indicam que 19,4 por cento da área total desmatada (700 mil quilómetros quadrados) tem florestas secundárias em processo de regeneração.
Mas esta resposta da Amazónia é temporária, uma vez que estas novas florestas têm uma "esperança de vida" de apenas cinco anos, até serem novamente derrubadas. "A floresta secundária reabsorve carbono mas isso não significa que o carbono esteja imobilizado para sempre", disse ao "Estado de São Paulo" Cláudio Almeida, chefe do Centro Regional da Amazónia do INPE, em Belém. Este engenheiro agrónomo fez o estudo para a sua tese de mestrado, com dados de 2006. Nesse ano, a área total desmatada na Amazónia era de 680 mil quilómetros quadrados. Nessa altura, as florestas secundárias cobriam 132 mil quilómetros quadrados, ou seja, uma área correspondente à superfície total da Grécia.
Especialistas brasileiros alertam que o avanço das florestas secundárias está a alterar a biodiversidade da floresta da Amazónia que dificilmente regressará ao seu estado original.
Projecto vai olhar para usos do solo
Esta pesquisa será ampliada a toda a Amazónia, com maior detalhe. Na semana passada, o ministro do Ambiente brasileiro, Carlos Minc, anunciou um acordo com o presidente do INPE, Gilberto Câmara, para começar a monitorização da reflorestação nas áreas desmatadas e a recuperação progressiva da floresta. Segundo o jornal online "24 Horas News", o INPE vai realizar estudos preliminares e em Março reúne-se com o ministério do Ambiente para definir como viabilizar o projecto.A nova metodologia contará com a colaboração da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), uma vez que será estudado o uso do solo nas áreas desmatadas a nível da agricultura, pecuária, floresta secundária e outros usos.Esta semana, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) publicou um relatório segundo o qual a desflorestação na Amazónia – que cobre a Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Suriname e Venezuela – atingiu em 2005 mais de 857 mil quilómetros quadrados. As causas são o desenvolvimento das actividades económicas, a construção de infra-estruturas industriais e de transporte e o aumento da população. No conjunto da região, da população de 38,7 milhões de habitantes (mais de três vezes a população de Portugal), 21,3 milhões, ou seja, 63,6 por cento, habitam já em zonas urbanizadas.
Actualmente a desflorestação atinge 17 por cento do coberto vegetal. Quando chegar aos 30 por cento, vai começar a chover menos na região, implicando um ciclo vicioso que causará fogos florestais e o aumento das emissões de gases poluentes para a atmosfera, alerta o PNUA.

COMENTÁRIOS:

Ora, ora...

Por Emigrante - Brasil

Sem dúvida que a Marina Silva se bateu bem pelo Ambiente. O grande problema aqui é a grande extensão da Amazónia e os poucos efectivos e meios para a fiscalizar. Não esqueçamos que a Amazónia não é só brasileira (60% Br.) e se espalha por nove países, incluindo a Guiana Francesa (Eur.). Ó anónimo de Algés você já cá viveu para falar com tão pouca propriedade sobre o Brasil, ou é apenas aquilo que leu? Na Guerra da Tríplice Aliança houveram muitos interesse, alheios aos países beligerantes, nomeadamente europeus.

a ex-ministra

Por Curiosa - Longe

A ex-ministra Marina Silva bem grita. Mas ninguém a ouve. Mas ela saiu de ministra, porque razão? Decerto por muitos interesses escondidos.

Algés

Por Anónimo - Algés

O Brasil é uma das vergonhas da colonização europeia. O objectivo era enriquecer o mais possível, no mais curto espaço de tempo. Os índios, inúteis ao enriquecimento, foram dizimados. Os sobrantes foram-se extinguindo a pouco e pouco, por falta de território. As primeiras terras férteis colonizadas ficaram desertificadas. Agora é atacado o Amazonas sem piedade. Na sua ânsia imperialista, o Brasil quase exterminou o Paraguai e o Uruguai. Dizia um escritor inglês: se os soldados do imperador do Brasil fossem tão valentes como feios, em breve seria imperador do mundo. Evidentemente que estes fenómenos passam ao lado do brasileiro da rua, que também é vítima, a quem de modo algum pretendo ofender.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caríssima dona Maria Tereza,

No meu e-mail de 13 deste mês tive oportunidade de passar à senhora trecho de um artigo de autoria do biólogo e ambientalista João Paulo Capobianco, no qual ele fala justamente nos melhoramentos introduzidos no arsenal de medidas à disposição das autoridades para exercerem um controle melhor sobre a floresta amazónica.

Mas, como disse naquela oportunidade, a tarefa é ciclópica.

Ciclópica porque os obstáculos a serem transpostos envolvem um sem número de poderosíssimos interesses contraditórios que, no fundo, querem ter como verdade a ótica de cada um dos actores. E ciclópica porque a prática do que precisa ser feito esbarra na limitada capacidade de o país dispor do dinheiro suficiente para a gigantesca tarefa de policiar o território da Amazónia brasileira.

Ao que se saiba, os países ricos que, por via transversa, poderiam ser beneficiados com a manutenção da floresta, porque ela é que os está fazendo respirar, conservam-se mudos e calados. Ao que sei, apenas a Noruega mostrou boa vontade em destacar recursos para tal empreendimento.

O caso da saída de Marina Silva é emblemático para exibir essa luta de interesses.

Segundo o portal Eco Debate, de responsabilidade do ambientalista Henrique Cortez, Marina se desentendeu com vários escalões do governo o mesmo tempo. Diz o portal:

"um dos motivos que podem ter levado Marina Silva a ter decidido pedir demissão foi o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter destinado a Roberto Mangabeira Unger, ministro da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos, a coordenação do Plano Amazônia Sustentável (PAS). A nomeação teria sido a gota d'água. Marina vinha entrando em conflitos com outros ministérios, como a Casa Civil e a Agricultura.

O mal-estar entre Marina Silva e Dilma Rousseff (Casa Civil) começou em Julho do ano passado, por conta das negociações em torno do edital para as concessões do leilão das usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira (RO). O impasse teve início com a cobrança do presidente Lula por mais agilidade nas licenças ambientais concedidas pelo Ministério do Ambiente.

Após desentendimentos, o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis) concedeu licença prévia para as hidrelétricas serem construídas, mas estabeleceu uma série de regras. Para Dilma, o argumento era económico e técnico: as usinas produzirão 6.450 MW - a maior obra de energia do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Marina argumentava, por outro lado, que as hidrelétricas só poderiam sair do papel se ficasse constatado que não iriam trazer prejuízos ambientais à região.

Com o ministro Reinhold Stephanes (Agricultura), o desentendimento girava em torno do plantio de cana. Para Marina, Stephanes incentivava o plantio de cana na Amazônia, Pantanal e da mata Atlântica. Stephanes afirmou que foi mal interpretado.
Marina também enfrentou problemas com os servidores do Ibama, insatisfeitos com a divisão do órgão e com a criação do Instituto Chico Mendes. A greve foi criticada por Lula."

E a polêmica continua, desta vez com o novo Ministro do meio ambiente. Segundo diz o portal Eco Debate, em comentário de 11 deste mês, agora existem três frentes de luta:
l. "A pressa do governo para definir as novas regras para a produção de cana-de-açúcar na Amazónia e a instalação de 82 usinas termelétricas na região até 2017 transformaram-se na mais nova polémica envolvendo ministros de diferentes áreas do governo. O titular da pasta do Meio Ambiente, Carlos Minc, é contra a ampliação do número de usinas térmicas, principalmente as movidas a carvão e óleo diesel, por serem muito poluidoras. Ele também resiste à ampliação do número de áreas na Região Norte para o plantio de cana destinada à produção de álcool combustível por considerar a região imprópria para a atividade - por exigir grandes áreas desmatadas, além da queima do plantio na época da colheita. Matéria de Leonel Rocha, do Correio Braziliense, 10/02/2009.
A produção de cana-de-açúcar na Amazónia e a instalação de usinas de álcool combustível na região vêm criando arestas entre os ministros do Meio Ambiente e da Agricultura, Reinhold Stephanes. Minc defende o que ele chama de etanol verde, o álcool combustível produzido dentro de regras ambientalmente correctas, como a colheita da cana sem a utilização de queimadas e o aproveitamento do vinhoto, o subproduto do etanol, como fertilizante, para evitar que seja jogado nos rios. "Nós teremos 5,5 milhões de hectares de cana, de áreas sem queimadas e aproveitando o vinhoto - que era jogado no rio - para fazer fertilizante", prometeu o ministro.
Desde que assumiu o cargo, Stephanes defende uma maior destinação de áreas na Amazónia para o plantio de cana-de-açúcar. Ele argumenta que grandes áreas já desmatadas na região podem ser aproveitadas nesse tipo de plantio para a produção de álcool. Fontes do Ministério da Agricultura temem que as fortes restrições defendidas por Minc na aprovação do Zoneamento Económico Ecológico (ZEE) para a Região Norte possam conter ainda mais o crescimento da produção agrícola na região. Para todo o país, a previsão do Ministério da Agricultura é de uma queda de 8,4% no volume a ser colhido até o fim do ano - em comparação ao ano passado.
2. A outra frente de polémica do ministro Minc é com o seu colega de Minas e Energia, Edison Lobão. As novas termelétricas programadas para serem instaladas na Amazónia estão previstas no Plano Decenal de Expansão de Energia lançado pelo governo em Dezembro. Lobão defende a instalação das térmicas alegando que o país não pode correr o risco de ficar sem energia suficiente para manter o crescimento económico. Minc teme que, com tantas usinas poluidoras, o país possa adoptar uma política para o sector de energia contraditória ao Plano de Mudanças Climáticas anunciado pelo governo no ano passado.
3. Uma proposta de redução de prazos no rito para a emissão de licenças ambientais de grandes obras na Amazónia, em estudo pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, criou uma terceira frente de polémica. Redigido em forma de minuta de decreto para ser assinado pelo presidente Lula, o texto altera o decreto original que estabelece as regras para a emissão de licenças de instalação e funcionamento das obras de infra-estrutura e desagradou ao ministro da área, que considera a mudança "desastrosa".
Afinal, a floresta pode ou não pode conviver com todos esses interesses, cada um de per si? Será que a verdade de cada um actores será superior a uma verdade que contemple a verdade de um todo ?
Essa é a grande indagação.
SDS Pimenta (Balem Pará – BR)

Anónimo disse...

Obrigado, Caríssimo César Pimenta pelos seus sábios, oportunos e sempre interessantes testemunhos. O blog do Lions Clube de Ponte de Lima muito tem ganho com a informação que nos tem feito chegar. A Companheira Maria Teresa Correia tem tido muito interesse e entusiasmo por todas estas questões tão actuais quanto necessárias e pertinentes. Um obrigado grande.
Sérgio Araújo (Lions Clube de Ponte de Lima)