terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Fórum Social Mundial 2009 - Balanço II






1 comentário:

Anónimo disse...

PONTO DE VISTA

Forúm Mundial de Teologia e Libertação

texto Leonardo Boff *
* Teólogo



Desde os seus primórdios, no

final dos anos 60 do século passado, a

teologia da libertação nasceu do esforço

de articular o discurso da fé com o

discurso da sociedade na perspectiva

dos oprimidos. A sua marca registada

foi e continua a ser a “opção pelos pobres

contra a pobreza”. A perspectiva

era e é global, de modo que já nos anos

70 se organizaram os primeiros Fóruns

Mundiais da Teologia da Libertação,

em Chicago, no México e no Brasil.

E continuaram, até que a cegueira

de sectores poderosos do Vaticano os

tivessem proibido. Como são por natureza

ecuménicos, tais fóruns continuaram

a acontecer regionalmente.

Com o surgimento dos Fóruns Sociais

Mundiais, a partir de 2001, encontrou-

se o espaço público para a continuação

destes encontros globais: o

primeiro, em Porto Alegre, em 2005;

o segundo em Nairobi, no Quénia, em

2007; e agora em 2009, em Belém.


Perfilou-se melhor o estilo da

reflexão. Em vez de se falar simplesmente

de teologia da libertação e assim

ressuscitar as discussões do passado,

preferiu-se falar em teologia e

libertação. O sentido é confrontar a fé

reflectida e crítica (teologia) com os temas

da opressão que possuem os mais

diversificados rostos, desde as crianças

consumidas como carvão na máquina

produtiva, até aos massacres, como os

de Gaza. O discurso não é intra-eclesiástico

e em favor ou contra as Igrejas,

mas público, voltado para a sociedade

mundial. A questão central não é discutir

o futuro do cristianismo, mas que

contributo pode dar aos verdadeiros

problemas humanos, que são a perpetuação

da paixão dos pobres, o aquecimento

global e as suas eventuais

consequências

perversas.


O cristianismo não pode ser um

superego castrador de temas importantes

da agenda mundial, mas deve

ser uma fonte de inspiração e de ousadia

para questionar o paradigma civilizacional

dominante que faz de todos,

ricos e pobres, oprimidos, afogados no

consumismo de bens materiais, sem

sentido de solidariedade e de cuidado

para com o património comum que é

o planeta Terra. Mas, principalmente,

pode mostrar-se fecundo no compromisso,

ao lado dos movimentos sociais

– os verdadeiros novos actores – no

combate ao sistema do capital produtor

de grandes injustiças, na luta pela

terra, negada às grandes maiorias e na

busca de alternativas de produção e de

vida. Não é sem razão que é unicamente

esse tipo de cristianismo que possui

mártires como a irmã Doroty, o padre

Jósimo e tantos outros da América

Latina. Das burocracias eclesiásticas

nunca saem místicos, santos e mártires

mas apenas medíocres reprodutores

do sistema religioso.

Em todos estes Fóruns de

Teologia e Libertação compareceram

mais de mil pessoas vindas de todos

os Continentes, também da Europa

e dos Estados Unidos da América,

o que mostra a vitalidade deste tipo

de pensamento. As autoridades doutrinárias

do Vaticano estão iludidas

quando imaginam que com sua disciplina

liquidaram a Teologia da Libertação.

Ela nasce do grito da Terra

e dos pobres. Enquanto estes continuarem

a gritar, há todas as razões

para actuar de forma libertadora e

elaborar a partir daí uma teologia.

De certa forma, as suas intuições

tornaram-se património comum do

cristianismo contemporâneo, salvando-

o do cinismo.

O tema de 2009, em Belém, foi

“Água, Terra e Ecologia para um outro

mundo possível”. Partiu-se da

conjunção das várias crises, todas elas

ligadas à falta de sustentabilidade do

sistema-Terra. O tema da ecologia impunha-

se. Não como técnica de gestão

de recursos escassos, mas como novo

paradigma de relação para com a Terra,

não como mero meio de produção,

mas como um ser vivo, gerador

de toda a vida. Como disse ao fórum

um discípulo de Edgar Morin, Patrick

Viveret, biólogo e economista: importa

fazer “um bom uso do fim de um

mundo”. Agora abre-se espaço para

um outro mundo não só possível, mas

necessário. O cristianismo é chamado

a trazer o seu contributo a partir de

seu capital de respeito e de cuidado.